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É possível educar sem bater?

Tatiana Almeida (*)

Houve um tempo em que a educação familiar tinha como base à repressão, onde as punições físicas e o medo inundavam os olhos desesperados das crianças. Os pais necessitavam demonstrar grande poder sobre os filhos e os limites eram impostos com agressões físicas ou emocionais.

Quando falo de agressões emocionais estou falando da pressão psicológica, da chantagem emocional, se você não fizer isso não vou deixar você fazer aquilo, da expectativa exagerada sobre os filhos, palavras depreciativas ditas em tom educado ou gestos que denotem desinteresse ou desdém, estas atitudes podem deixar cicatrizes mais profundas que um castigo físico.

Os castigos corporais não respeitam a criança e tendem a danificar a sua auto-imagem. Além disso, estamos ensinando à criança a imagem de que, em determinadas situações, os problemas podem ser resolvidos através da violência.

Um dos problemas associados às regras e limites fundamentalmente estabelecidos a partir do medo prende-se com a impossibilidade da figura de autoridade estar sempre junto da criança, o que faz com que, na sua ausência, a criança não sinta medo da punição. Por outro lado, o excesso de medo pode criar na criança ansiedade e inibição na maior parte das situações, chegando a ponto de inibir formas saudáveis de expressão.
No final dos anos 60 os pais optaram por uma educação mais permissiva, surge então, a geração do “tudo pode”, pai e mãe desempenhando o papel de amigos dos filhos, onde buscavam a total liberdade. Uma geração de pais permissivos, que não souberam definir limite.

A dificuldade em colocar limite, muitas vezes, está relacionada ao sentimento de culpa comum nos pais, em virtude do pouco tempo que passam juntos com os seus filhos, pelo baixo ânimo e paciência que oferecem após um dia de exaustivo trabalho, além do acúmulo de noites mal dormidas, etc. No entanto, a culpa apenas dificulta a educação, diminuindo as chances de se praticar o que é necessário. Os pais acabam invertendo as prioridades, dão o que não deve, a exemplo dos presentes.

A falta de limites tem conseqüências negativas para o desenvolvimento infantil, podendo levar a uma desorientação, a uma falta de noção do outro, de respeito, a doenças emocionais, dependência química e a criminalidade em alguns casos extremos.

“A tarefa de dizer não, por outro lado, inicia-se desde o nascimento. A importância do “não” e do estabelecimento de limites é fator organizador na formação da personalidade de todo ser humano. A partir de um ano de idade aproximadamente a criança precisa aprender a ouvir a palavra “não” e os pais de pronunciá-la.”

As crianças passam pela fase do negativismo, na qual a criança fala quase compulsivamente a palavra não, testando sua força diante da autoridade do adulto, pai ou mãe. Com esse comportamento as crianças estão experimentando até onde podem chegar e até onde os pais deixam ir.

Os limites ajudam a criança a tolerar frustrações e adiar as satisfações, ela aprende a esperar a sua vez, a viver em sociedade. Quando mais cedo, os pais colocarem os limites de forma afetiva e assertiva menos problemas terão na puberdade e na adolescência, fase na qual as crianças se revoltam contra as imposições e transgridem aquilo que é insuportável.

A educação leva tempo, não ocorre da noite para o dia, ela é um processo. A criança não é uma máquina programável, é um ser em desenvolvimento, que necessita de maturidade e orientação para tornar a vida melhor.

A criança não nasce obediente ou desobediente, mas aprende a sê-lo em função dos estímulos que recebe e de como as pessoas reagem com o seu comportamento. Para que uma criança seja obediente e se comporte de forma adequada há que lhe ensinar a fazê-lo.

Mas o que fazer quando a criança se expõe a situações de perigo, não entende algo que já foi explicado verbalmente ou muitas vezes desrespeita e agride os pais ou outras pessoas?

No caso de criança muito pequena, medidas como lançar um olhar mais duro, segurá-la pelo braço, colocá-la na cadeira pensando e explicar por que a mamãe, o papai ou educador está triste pelo comportamento apresentado pela criança.

As crianças aprendem também a modelar as suas atitudes a partir das de quem está com elas. A moral desenvolve-se a partir da tentativa de querer ser como um adulto admirado.

Quando a disciplina é estabelecida como uma aprendizagem e é reforçada, com muita empatia e carinho, as crianças sentem-se bem por seguirem as regras. A sensação de saber que se é “o menino dos olhos” de alguém é muito agradável. Quando essa criança sentir o olhar de desapontamento por um comportamento incorreto, vai possuir uma sensação de perda porque não recebe o olhar carinhoso de quando se porta bem.

Se nunca tivesse sentido tal, não haveria sensação de perda ou de frustração que a motivasse interiormente a modificar o comportamento.

Algumas regras colaboram no processo da educação infantil:

Não compre os filhos com coisas, compartilhe educação, compartilhe momentos juntos, realize as alimentações juntos, ir ao parque aos finais de semana ou folgas, reserve diariamente pelo menos vinte minutos para brincar com o seu filho e ouvir o que ele tem a dizer.

* Manter comunicação constante. As conversas fazem parte da educação.

* Não atender as birras, mas aos pedidos.

* Explicar à criança que só será atendida se pedir em tom de voz normal.

* Evite usar os personagens de televisão para amedrontar ou punir os filhos, faz mais sentido alegar que são os pais ou cuidadores que estão educando.

* Não voltar atrás.

* Oferecer algum tempo diário para se dedicar aos filhos, carinho, brincadeiras, etc.

* Evite a contradição entre o que é dito pelos pais. A criança se sente confusa e dividida.

*Os pais são o modelo a ser seguido. Pense que tipo de modelo é o seu.

“UMA CRIANÇA QUE CRESCE EM UM LAR COM REGRAS E LIMITES DEFINIDOS SENTE-SE AMADA, CUIDADA E VALORIZADA”.

Ninguém é melhor que pai e mãe para educar uma criança.

Bibliografia
DONOSO, M TV; RICAS, J. Perspectiva dos pais sobre educação e castigo físico. Rev. Saúde Pública [online]. 2009, vol.43, n.1, pp. 78-84. ISSN 0034-8910. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102009000100010.
LORCH, D. Como educar sem usar a violência Ed. Summus,2007

(*) Tatiana Almeida é psicóloga Clínica Cognitiva Comportamental. Graduada em Psicologia pela Universidade São Judas Tadeu (2000). Especialista em Distúrbios do Sono pela Universidade Federal de São Paulo (2004), Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (2011). Pesquisadora nos seguintes temas, Distúrbios do Sono, Desenvolvimento Infantil, Psicologia, Distúrbios de Aprendizagem, Sexualidade infantil.

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