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Campanha da Fraternidade 2015

Deus envia os profetas que em nome da vida, da verdade, do amor defendem os pobres, os excluídos, os marginalizados

As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, são também as dos discípulos de Cristo. A Campanha da Fraternidade deste ano enfoca a dimensão social da fé. Toca num tema muito sensível e nem sempre acatado. É mais cômodo o cristianismo sacramentalizador e devocional que o profético e social. Jesus, porém, pede que busquemos em primeiro lugar o Reino de Deus. Para responder a João Batista, Jesus deu alguns exemplos de identidade do Reino: os coxos andam, os cegos veem, os surdos ouvem, os pobres são evangelizados. Eis a relação entre fé e o bem comum.

Desde o Antigo Testamento, Deus se revela como o defensor do órfão, da viúva, do estrangeiro e do pobre. Do céu, Ele se inclina, vê e ouve o clamor do seu povo escravizado no Egito. Então, desce e, por meio de Moisés, liberta Israel da escravidão.

Os Dez Mandamentos protegem a vida, a dignidade da pessoa, a liberdade, o direito e a justiça. Deus envia os profetas que em nome da vida, da verdade, do amor defendem os pobres, os excluídos, os marginalizados. Seria muito frutuoso e louvável lermos o profeta Amós, Miqueias, Isaías para constatarmos sua coragem profética enfrentando autoridades políticas, em favor do povo.

Dizia o papa Bento 16: “A Igreja é advogada da justiça e defensora do bem comum”. Que digam os cristãos das comunidades primitivas onde “não havia necessitados entre eles”. Que digam os santos padres, como por exemplo, São João Crisóstomo que escreveu: “Que adianta na mesa do Senhor haver cálices de ouro se lá fora Ele morre de fome na pessoa do pobre? Que digam nossos santos e santas que fundaram congregações religiosas para cuidar de crianças, doentes, idosos, encarcerados, pobres, migrantes, vítimas de epidemias e estão nos confins da terra em missão. Não podemos esquecer Tereza de Calcutá, irmã Dulce, Dom Luciano.

Em nossos dias, o papa Francisco move a Igreja a estar nas periferias, nas fronteiras, entrando na noite do povo, pois ela é um “hospital de campanha”, portanto, deve ser “Igreja dos pobres”. É preciso dizer “não” a uma economia de exclusão; “não” à nova idolatria do dinheiro; “não” à desigualdade social que gera violência; “não” ao dinheiro que governa em vez de servir, diz o papa.

O Concílio Vaticano 2º abriu ainda mais as portas da justiça e da paz, procurando tornar mais humana a família dos homens e mulheres e sua história. As Conferências de Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida debruçaram-se sobre as questões sociais e sobre a colaboração da Igreja na transformação da sociedade. Temos assim uma longa experiência no campo da dimensão social da fé.

Desde 2004 está à disposição de todos o “Compêndio da Doutrina Social da Igreja” que resume séculos de ensinamento social da Igreja e sua ação no mundo. Mesmo assim, ainda há muita oposição e também desconhecimento da dimensão social da fé. A Campanha da Fraternidade deste ano quer ser mais um avanço na compreensão e aplicação do tesouro social da fé e do Evangelho. Do contrário, corremos o risco de desfigurar o próprio Evangelho e a missão evangelizadora da Igreja. A fé não é cômoda nem individualista, comporta sempre o desejo de mudar o mundo. “Dai-lhes vós mesmos de comer”( MT 6,37).

A temática desta campanha veio em hora boa, pois os escândalos do mensalão, da Petrobras, e por outro lado a Reforma Política, o Ano da Paz, o combate à fome nos motivam a aplicar em nossas estruturas a justiça, o direito, a liberdade e o amor. Toda vez que rezamos o Pai-Nosso e meditamos as bem-aventuranças, estamos proclamando o Reino de Deus e confessando a dimensão social da fé.

Dom Orlando Brandes, arcebispo de Londrina/PR

Fonte: http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1–1613-20150215

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