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A Páscoa de Jesus e Páscoa de São Francisco

Francisco viveu de tal modo sua vida no clima da refeição da quinta-feira santa que quis fazer de sua família uma fraternidade onde os irmãos viessem a lavar os pés uns dos outros. Nesse clima ele inventou o nome de seus seguidores: frades menores.

Francisco foi o homem da sexta-feira santa. Sabemos quão apaixonado foi seu amor pelo crucificado. Podemos dizer que Francisco não morre a sua morte mas a morte do seu Senhor. Quis fazer de sua morte um ritual, uma celebração.Ele quis morrer na Porciúncula onde tudo havia começado. Pediu que o colocassem nu na terra nua. Posto no chão, sem a roupa de saco, voltou o rosto para o céu como de costume e todo atento naquela glória, cobriu a chaga do lado direito com a mão esquerda, para que não a vissem. E disse aos frades: “Fiz o que tinha que fazer. Que Cristo vos ensine o que cabe a vós” (2Cel 214).

“Não é pois arbitrário considerar a história de São Francisco como a realização progressiva duma Páscoa em cujo termo podemos contemplar um homem livre, consciente de uma realeza adquirida graças à pobreza, aquela altíssima pobreza que nos leva à terra dos vivos”.

Merece ser transcrito neste contexto episódio acontecido em Greccio num domingo de Páscoa e que revela a densidade do itinerário pascal de Francisco: “Em certo dia de Páscoa, os irmãos do eremitério de Greccio, tinham posto a mesa melhor do que era costume, com guardanapos e copos. O Pai ao descer da cela, viu a mesa suntuosamente bem provida e ornamentada: mas este risonho espetáculo entristeceu-o. Retirou-se sorrateiramente na ponta dos pés, pôs o chapéu dum pobre ali presente, pegou num bordão e saiu. De pé, junto da porta, esperou que os irmãos se sentassem à mesa; não costumavam esperar quando ele não aparecia ao sinal dado. Apenas começaram a comer, este autêntico pobre pôs-se a gritar à porta: “Por amor do Senhor dai esmola a um peregrino pobre e doente” – “Entra, bom homem, responderam os irmãos, por amor daquele que invocaste!” Entrou e apresentou-se aos irmãos sentados à mesa: que espanto para aqueles burgueses, à chegada de tal peregrino! A seu pedido deram-lhe uma tigela. Sentou-se no chão a um canto e pousou a tigela. “Agora estou sentado como um verdadeiro frade menor!” Nós devemos, mais do que os outros religiosos, sentir-nos na obrigação de imitar os exemplos da pobreza que nos deu o Filho de Deus. Esta mesa bem provida e ornamentada, julguei-a indigna dos pobres, que andam a mendigar de porta em porta. Meus irmãos, nós somos os verdadeiros hebreus, atravessando o deserto deste mundo como peregrinos e estrangeiros, e devemos sempre com a alma de pobre, celebrar Páscoa do Senhor, isto é , a passagem deste mundo para o do Pai.

(cf. tradução em A Páscoa de São Francisco, I.-É. Motte e Geraldo Hégo, Braga 1972, p. 195-196).

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